domingo, 19 de agosto de 2012

Cultura Popular não é mercadoria


A programação da II Mostra do Samba de Roda do Recôncavo Baiano segue seu itinerário e chega até Maragojipe, movimentando um público diverso. Hoje (18/8) pela manhã foi realizado no Auditório da Secretaria de Cultura em Maragojipe, Bahia, o Seminário Produção Cultural com Culturas Populares.




A mesa, composta prioritariamente por gestores culturais como Uzêda, André Reis e Afonso Oliveira, teve também a participação do antropólogo Ari Lima.

A mediadora Luiza Mahin Nascimento observou a importância da pesquisa na elaboração de projetos culturais. A importância da participação dos filhos de mestres, dos portadores do conhecimento no direcionamento desses processos de produção e organização da cultura.

Afonso Oliveira
O produtor cultural pernambucano Afonso Oliveira compartilhou a experiência do Movimento Canavial/Ponto de Cultura Estrela de Ouro, desenvolvida lá em Pernambuco. A experiência do grupo é ampla e envolve educação e comunicação. “Nós precisamos de um exército de produtores culturais para cuidar da cultura popular. Isso não virá das universidades e sim das comunidades, dos grupos. Aqui são mais de 160 grupos de samba. Quem vai cuidar disso tudo?”, enfatizou.

André Reis
André Reis compartilhou um pouco dos seus aprendizados à frente da secretário de cultura de Maragojipe. Para Reis, o gestor público, antes de qualquer coisa, precisa ouvir a comunidade. “Estamos discutindo muito a profissionalização dos grupos. A organização deles, institucionalização. Essa é uma demanda decorrente da captação de recursos. E, principalmente, de captação direta. Então estamos indo em direção à economia da cultura. Estamos criando a Agência Criativa para fomentar a economia da cultura, a geração de emprego. Estamos cuidando também do registro dos ofícios como o das ceramistas, por exemplo”.

Observar a dimensão sensorial e simbólica sem a necessidade de sobrepor uma coisa à outra é a proposta do antropólogo Ari Lima. “Mais que pensar o popular e cair em hierarquizações, vamos pensar na cultura e nos diversos contextos em que ela se manifesta. Assim, mais que pensar uma política para a cultura popular é pensar uma política cultural”.

Ari Lima
O pesquisador observa que a grande ameaça às culturas diversas é a cultura de massa. Ele diz que, apesar de nem sempre ser negativa. A cultura de massa segue a lógica do mercado, da mercadoria quando nós precisamos pensar a cultura como forma de humanização, que articula as diversas dimensões da vida.

Déa Melo, comunicadora e pesquisadora das danças sagradas, que veio junto com a caravana do Carimbó, do Pará iniciou sua fala, lembrando do Mestre Paião de Teodoro Sampaio: “Se me convidam para um trabalho eu fico feliz porque vou ganhar dinheiro. Se me convidam para um samba eu fico mais feliz ainda porque vou ganhar alianças”. “Essa fala nos revela vida em comunidade, carinho sócio ambiental, cuidado coletivo. Revela um caminho de sociedade com mais qualidade”, defende Déa.

2 comentários:

  1. Déa... o que nosso querido Mestre Paião fala ao final da sua fala é "...vou ganhar audiência..." Mestre é assim mesmo, faz ouvirmos aquilo que acreditamos!!!

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  2. Minhoca saudações paraoaras... esta matéria não contempla nem a palavra que usei, nem a abordagem que propus em minha fala nesta mesa. No vídeo "Cantador de Chula", entendo Paião falar "guiança" e não "audiência", nem tão pouco "aliança". Definir a palavra, talvez não seja o mais importante; já que os mestres de fato nos fazem "ouvir" o que acreditamos, como bem colocas. Parece então, que o convite da tradição oral é mais orgânico - entrarmos na roda e compreendermos com nossas múltiplas linguagens humanas como o canto, a dança, o ritmo - nossas crenças e valores mais íntimos, com vistas a projetos e produções culturais transformadoras do mundo exterior. Dancemos por uma Comunicação mais integrada e criativa. Valeu!!

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